sábado, 3 de maio de 2008


UM NOVO MOTIVO PARA SEGUIR


Na escada de mármore ele permanecia sentado à espera dela. Sabia, por mais que não quisesse, que aquele sentimento não devia ser nutrido, porém, era mais forte do que suas mais incríveis forças, mais forte até do que sua própria vontade de se encontrar com a morte de forma natural. Seus olhos se congelaram no carro negro que brilhava ao toque do Sol estacionado ao lado da guia. Uma cena surgiu em sua mente, mais uma das coisas que ele faria sempre, mesmo quando não pudesse: Salvar a vida dela! A cena que lhe veio foi de quando a salvou de uma bala a poucos centímetros de acertá-la. Se ele não fosse o que era, a teria perdido, mas também poderia tê-la amado e sentido.

O Pôr-do-sol faz-se presente. Ele lá, na sombra da escadaria negra. O coração vazio, sem sangue e sem vida, mas com um único motivo para continuar a bater.

Seu medo pela morte era tanto quanto sua vontade de morrer. Ele pensara na dor que fizera sua ex-mulher sofrer, queimou-a viva, ironia! Não se pode dizer que estava viva, mas o bastante para sentir. Talvez ele não fosse alguém tão bom quanto parecia.

O medo da dor era tão grandioso quanto à vontade de senti-la novamente.

A vontade de mirar seu próprio sangue era tanta que o fazia sangrar por dentro, um sangue de alguém inocente, um sangue que não o pertencia.

Teria ele que viver a eternidade carregando toda essa angústia, toda essa culpa e esse sentimento que o atormentava? Vendo todos morrerem aos poucos, sem nada poder fazer. Ele não queria se sentir mais culpado ainda, ele não poderia passar seu fardo aos outros, principalmente a quem amava. Ao mesmo tempo, desejava estar a eternidade junto dela.

Ela, ela! Os cabelos da cor de Sol, os olhos que refletiam o mais puro azul do céu, a pele alva como as nuvens escassas, ela expira, inspira, é pura vida! E ele jamais poderia tê-la como desejava.

A noite chegava aos poucos, brindando com uma taça rubra e um negro traje.

Ela não viria, não mais. Pois sabia que se isso tivesse um futuro, seria somente com o sacrifício de sua vida, isso ele não seria capaz de permitir, mas seria tentador! Sentir seus dentes afundando na pele alva do pescoço, não poderia mais parar, seria só uma vez, a tragédia! Lembrou-se muito bem do gosto único daquele sangue que o salvara uma vez.

Ele se levantou. Já não lhe restavam esperanças. Desceu os degraus fitando o chão, as mãos nos bolsos da calça social, a camisa branca meio aberta e no rosto a expressão de um executivo que acabara de ser despedido.

Topou com alguém. Levantou a cabeça e logo sentiu aquele pulsar estranho em suas veias vazias, aquele palpitar no peito sem vida. Era ela que chegava para aquecer seu corpo congelado, pois era isso o que ele era, uma pedra de gelo que ela conseguira derreter aos poucos.

- Eu não posso deixar de pensar em você! A mim, já não interessa o que é certo ou errado. Só sei que o quero como nunca pude querer alguém, meu eterno herói.

E com um beijo, fez-se a noite mais eterna do que a própria eternidade.


(Inspirada no seriado Moon Light. Essa dedico para minha amiga Thali!)

sexta-feira, 2 de maio de 2008



Este teu jogo, mais parece vício do que virtude. Fere o corpo para gozar a alma. Saudoso grito, fino e estridente. Sua força não tem significado, tu és fraco!
Não será capaz de agüentar mais um segundo, não finja mais. Meu motivo de escárnio!
Prezado era teu poder
Sangue azul em veias púrpuras
Ou sangue vermelho em veias azuis?
Tua maior dor não era ver, era enxergar
O líquido rubro escorrer ao palpitar
Te maldigo, te esconjuro
Ser impuro e insolente
Corra! Corra mais de mil milhas
Para o meu doce deleite


Minha senhora, minha dona
Não me peça para morrer
Poderás me maldizer
Mas permita-me viver
Mirando tua doce face
Nas brumas do anoitecer


Os teus olhos, a meu ver, já não são mais azuis
Como eram outrora da cor do céu
Límpido e forte, lástima!
Estes, não quero mais por perto.
Teu rosto de comédia, a mim é só tristeza
Saia, meu amado, e nunca mais apareça!




Aziel Guerriz
o pseudônimo da obscuridade