terça-feira, 23 de outubro de 2007

CONTO DE UMA LOUCURA DE AMOR


Em um estreito e úmido beco, se encontrava um jovem rapaz de cabelos curtos e negros. Sentado no chão, com uma garrafa de conhaque na mão, ele fitava o céu noturno desdenhoso carregado por tenebrosas nuvens cinzentas.
A seu lado, um outro rapaz de nome Augusto descansava deitado apoiando sua cabeça em cima de uma mochila preta de aparência velha e muito usada. Este possuía cabelos louros arruivados, pele pálida e olhos estreitos tão claros quanto o leito de um virgem riacho.
Augusto tomou a garrafa de conhaque da mão de Nando, assim era chamado o rapaz de cabelos escuros. Encheu a boca com o líquido. Engoliu tudo de uma só vez.
- Vá com calma companheiro, que não te quero carregar nos braços! Se continuar com essas goladas, não sei qual fim tu hás de ter! – Nando disse sorrindo, já feliz.
- Não te preocupe, meu amigo. Se quedo dormindo e não desperto, apenas deixais meu corpo repousar. O que há de ser melhor que um sono profundo? Quando nem com guerra teu corpo se levanta. Que venha o sono e apague todas as lamúrias e finde com as desgraçadas esperanças.
- Oh, mas vejo que lhe subiu rápido à cabeça! Estás já completamente ébrio. Se te viste assim tua amada, correria de espanto!
- E por que estaria eu assim senão por ela? Se corresse com espanto, seria por ter-me desprezado. Mas não correrá, lhe garanto.
- E só por isso estás assim? Ou existe mais um motivo?
- Ah, sim! Já estava me olvidando. Aqueles olhos de esmeralda, a languidez daquele seio pálido, os cabelos dourados soprados pelo vento. Oh, só de falar me enche o peito de loucura, que delírio, que delírio!
- E quem é tão formosa dama?
- Irmã de Lauryn, Sophie é seu nome. Sangue do mesmo sangue.
- Mas que infâmia meu amigo! A irmã de sua amada! – Tomou a garrafa de Augusto, agora ele que bebia com voracidade – Mas conte-me logo essa história!
- Não há, pois, história concreta. Um dia resolvi, como muitos outros, esperar minha Lauryn na janela. Escondi-me entre as moitas, apenas para mirá-la e contemplar-lhe a formosura. Vi então a sombra nas cortinas de um corpo de donzela, mas era tão distinto de minha adorável Lauryn, tinha as formas mais acentuadas, os cabelos mais compridos e um corpo de mulher maior.

“Aproximei-me pouco a pouco da janela, para conferir se meus olhos não estavam enganados. Não estavam. Ela afastou as cortinas e abriu a janela para respirar o ar puro da manhã. Nunca vi seios tão fartos, tampouco pele tão pálida enfeitada por bochechas tão rosadas. Ela me viu e reconheceu-me, sabia que eu amava sua irmã.
Fechou a janela num movimento brusco, estava assustada e envergonhada pelas roupas íntimas que usava.
No dia seguinte voltei, e assim fiz três vezes. Parecia que ela me esperava naquele horário, se despia e eu via suas formas na sombra da cortina, logo saía, respirava, me olhava e voltava a fechar as cortinas brancas.
- Estou indignado! E o que passou com Lauryn?
- Deixe-me continuar... Depois disso, sempre que aparecia Lauryn em seu quarto, meu coração já não palpitava como antes. Meus olhos! Não os sentiam úmidos de salinas lágrimas como costumavam ficar.
Numa manhã, Sophie desceu e veio ter comigo. Seus olhos demonstravam medo.
- Veja – Disse ela levando, com a sua, minha mão até seu peito palpitante. Veja o que causaste em mim.
O coração de donzela batia descompassado, num ritmo acelerado e frenético.
- E se tu soubeste, minha dama, quanto eu a desejo, quanto eu já a amo! E que ternura tem seus olhos, assim tão de perto, e que pele mais macia! Tu és formosa como nenhuma outra há de ser neste mundo, seja minha, eu lhe dou minha alma!
- Pobre mancebo que deixa de amar tão repentinamente uma mulher! Era ela que tu vias, eram por ela que suas lágrimas se esbaldavam no rosto, era por ela que teu peito palpitava.

- Sim, era por ela! Mas porque eu não lhe conhecia... Como desejei que fosse ela naquela primeira manhã que vi tua sombra delirar pelas cortinas. Porque eu soube que derramaria o bálsamo do amor em meu coração, que não poderia mais deixar de vê-la, tampouco de amá-la.
- Mas vós quisestes a ela, não posso amá-lo assim!
- Mas ela não quis a mim, rejeitou-me e suas palavras doeram como uma espada atravessando meu peito. Eu a amei como Romeu amou Julieta! Eu a amei até depois de ferido.
- E não mais a ama?
- Amo a ti!
Das esmeraldas de seus olhos, brotaram gotas d’água. Por um momento ela me fitou, não falava uma palavra.
- E tu, bela donzela, amas-me?
- Assim como um pintor ama sua melhor obra. – Respondeu mirando-me nos olhos.

Ah meu amigo! E que mel provei daqueles lábios, e que voluptuosidade senti com aquelas mãos tocando-me? Aquilo sim é amor! Sentir aquele aroma de flores, aquele corpo quente junto a mim. Não pude, não ousei deixar de amá-la."
- Então quer dizer que pela outra nada mais sentes?
- Sinto.
- E o que sente?
- Não se espante tanto assim! Eu ainda sinto amor, mas é amor por respeito.
- Respeito à Sophie?
- Não. Dê-me esse último gole, vai! Você bebeu quase toda a garrafa, olhe só!!! Respeito a ela mesma.
- E por que se não a tocou em um só momento? Beba logo e continue.
- Por sua morte para servir ao meu amor. Pobre virgem, só tenho que amá-la!
- Por Deus! Está morta?
- Morta em seu túmulo banhado de flores brancas, pálidas como ela.
- E de que morreu? – Nando sentou-se e segurou sua mochila.
- Sophie a matou.
- A própria irmã? – Perguntou indignado.
- Por amor.
- A ti?
- E a quem mais poderia ser? Claro que a mim! Se a irmã continuasse viva, ela não poderia estar comigo. Lauryn não iria permitir, contaria mil mentiras sobre eu aos pais e estes nunca permitiriam que ficássemos juntos.
- Oh! E como ela fez isso?
- Colocou láudano na bebida de Lauryn.
- Não sentes remorso?
- Não, apenas amor e respeito como eu disse.
- Bem, está amanhecendo. Vou descansar, preciso de uma cama, de banho e comida.
- Pois vá, e sonhe com tua amada.
- Depois disto, terei medo! Tu me acompanhas?
- Deixe-me aqui a contemplar o céu clareando, as estrelas sumindo e o dia que vem chegando para no seio dela eu ir repousar.
- Então eu me vou. Próxima noite estará aqui para compartilhar mais uma bebida? Oh, mas já dormiu? Nem se quer me ouve.
Nando se levantou seguindo rumo a sua casa.




Grazi Ruiz.

2 comentários:

Caroline. disse...

amei demais *------------*
mesmo gr�!
parab�ns!
voc� deveria fazer um livro :)
admiro mt vc meu *-*

dreamssecrets disse...

nossa gostei muito do seu blog :D

você escreve muito bem,adorei a historia viu?

;*